Vagner A. Alberto Advogados Associados

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02/04/2020

Para 63% das MPMEs, receita caiu mais da metade

 

Valor Econômico – 02/04/2020

“Devastador” e “terrível” foram as palavras usadas por pequenos empresários para descrever o efeito da crise do novo coronavírus sobre seu setor, que responde por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

O sentimento foi captado por levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que aponta que 89% dos pequenos negócios do país já enfrenta queda no faturamento diante da pandemia – 63% deles de mais de 50%. Com teto de receita bruta anual de R$ 4,8 milhões, a maioria, no entanto, fatura menos de R$ 360 mil por ano.

A pesquisa, feita entre os dias 20 e 23 de março, junto a 9.105 donos de pequenos negócios, foi a primeira de uma série, que passará a ser realizada quinzenalmente pelo Sebrae. Carlos Melles, presidente da instituição, disse que atenção especial precisa ser dada ao segmento “que é o que mais emprega e o que o menos desemprega no país, por causa das relações de confiança que envolve e dos ambientes quase familiares que cria”. Da força de trabalho formal do Brasil, ele estima que quase metade tenha vínculo com as mais de 6,5 milhões de milhões de micro e pequenas empresas ou 10 milhões de registros de micro empreendedores individuais do país.

“O desemprego é o pesadelo do brasileiro nesta hora e não podemos correr o risco de quebrar esses pequenos negócios”, disse Melles. Os setor inclui do varejo tradicional à moda, alimentação, construção civil, beleza e serviços educacionais. Entre os empresários ouvidos pelo Sebrae, 36% afirmaram que seu negócio tem condições de sobreviver apenas por um mês no cenário de restrições colocado, sendo que 30% suportariam a situação por dois a três meses e somente 3% resistiriam a mais de 6 meses de crise.

Inserida na parcela que acredita conseguir superar dois meses de forte turbulência, Marcela Reis, proprietária da loja de roupas Sol e Vento, em Brasília, disse que conseguiu renegociar prazos de pagamento com alguns fornecedores e também seu aluguel, mas que teme pela cadeia como um todo.

“Dos pequenos produtores de tecidos à fábrica que produz nossa coleção, esse furacão vai atingir muita gente, porque vínhamos de anos de crise e eu mesma estou perto de queimar minhas últimas reservas depois que o faturamento caiu a quase zero”, lamentou. Por enquanto, ela mantém empregadas as quatro funcionárias, que estão de férias, e espera ter ajuda do governo para seguir adiante.

Como ela, os empresários esperam, sobretudo, redução de impostos e taxas, subsídios para pagamento da folha de salários, descontos em tarifas de água e luz, além de aumento de linhas de crédito. Nesta semana, o próprio Sebrae anunciou que destinará no mínimo 50% da sua arrecadação à ampliação do crédito para pequenos negócios. A operação de socorro deve começar com R$ 1 bilhão em garantias e permitirá conceder aproximadamente R$ 12 bilhões em crédito, por meio do Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe) – que pode alavancar empréstimos no valor de 8 a 12 vezes o seu patrimônio.

“Um dos maiores obstáculos no acesso dos pequenos negócios a crédito é a exigência de garantias pelas financeiras, e estamos tentando colocar no circuito bancos, fintechs e cooperativas para pensar soluções”, afirmou o presidente do Sebrae.

Com quedas expressivas nas vendas, 54% dos empreendedores já preveem que precisarão recorrer a empréstimos para manter o negócio em funcionamento sem gerar demissões. E, avaliando as perspectivas da economia brasileira, 33% dos empresários entrevistados acreditam que o país deve levar um ano ou mais para voltar à normalidade.

Ilda Ribeiro, da Bureau de Eventos, não está otimista. “O cenário é desesperador, já tive que demitir oito pessoas, de uma equipe de nove, após ter praticamente todos os meus eventos para este ano cancelados”, contou. Com as contas das rescisões e de material que tinha encomendado para convenções e congressos chegando à porta, ela preferiu se resguardar o quanto antes. A tentativa é de preservar sua empresa, fundada há 27 anos no Rio de Janeiro.